sexta-feira, 2 de maio de 2014

Crônicas- Textos para leitura



O humor nas crônicas de Luiz Fernando Veríssimo:


Pneu furado





O carro estava encostado no meio-fio, com um pneu furado. De pé ao lado do carro, olhando desconsoladamente para o pneu, uma moça muito bonitinha. Tão bonitinha que atrás parou outro carro e dele desceu um homem dizendo "Pode deixar". Ele trocaria o pneu.
- Você tem macaco? - perguntou o homem.
- Não - respondeu a moça.
- Tudo bem, eu tenho - disse o homem - Você tem estepe?
- Não - disse a moça.
- Vamos usar o meu - disse o homem.
E pôs-se a trabalhar, trocando o pneu, sob o olhar da moça.
Terminou no momento em que chegava o ônibus que a moça estava esperando. Ele ficou ali, suando, de boca aberta, vendo o ônibus se afastar.
Dali a pouco chegou o dono do carro.
- Puxa, você trocou o pneu pra mim. Muito obrigado.
- É. Eu... Eu não posso ver pneu furado. Tenho que trocar.
- Coisa estranha.
- É uma compulsão. Sei lá.



Pai não entende nada

_ Um biquíni novo?
_ É, pai.
_ Você comprou um no ano passado!
_ Não serve mais, pai. Eu cresci.
_ Como não serve? No ano passado você tinha 14 anos, este ano tem 15. Não cresceu tanto assim.
_ Não serve, pai.
_ Está bem, está bem. Toma o dinheiro. Compra um biquíni maior.
_ Maior não, pai. Menor.
Aquele pai, também, não entendia nada. 

 (Luís Fernando Veríssimo. Livro: Pai não entende nada. L&PM, 1991).

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