O humor nas crônicas
de Luiz Fernando Veríssimo:
Pneu furado
O carro estava encostado
no meio-fio, com um pneu furado. De pé ao lado do carro, olhando
desconsoladamente para o pneu, uma moça muito bonitinha. Tão bonitinha que
atrás parou outro carro e dele desceu um homem dizendo "Pode deixar".
Ele trocaria o pneu.
- Você tem macaco? -
perguntou o homem.
- Não - respondeu a moça.
- Tudo bem, eu tenho -
disse o homem - Você tem estepe?
- Não - disse a moça.
- Vamos usar o meu -
disse o homem.
E pôs-se a trabalhar,
trocando o pneu, sob o olhar da moça.
Terminou no momento em
que chegava o ônibus que a moça estava esperando. Ele ficou ali, suando, de
boca aberta, vendo o ônibus se afastar.
Dali a pouco chegou o
dono do carro.
- Puxa, você trocou o
pneu pra mim. Muito obrigado.
- É. Eu... Eu não posso
ver pneu furado. Tenho que trocar.
- Coisa estranha.
- É uma compulsão. Sei
lá.
Pai não entende nada
_ Um biquíni novo?
_ É, pai.
_ Você comprou um no ano
passado!
_ Não serve mais, pai. Eu
cresci.
_ Como não serve? No ano
passado você tinha 14 anos, este ano tem 15. Não cresceu tanto assim.
_ Não serve, pai.
_ Está bem, está bem.
Toma o dinheiro. Compra um biquíni maior.
_ Maior não, pai. Menor.
Aquele pai, também, não
entendia nada.
(Luís Fernando Veríssimo. Livro: Pai não entende nada. L&PM, 1991).
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